1 Introdução
O complexo de doenças que inclui a Babesiose e a
Anaplasmose, é conhecido no Brasil, como Tristeza Parasitária Bovina (TPB).
A Babesiose é causada por protozoários do gênero Babesia (espécies
Babesia bovis e Babesia bigemina);
A Anaplasmose é causada por uma rickettsia do gênero Anaplasma
(espécie Anaplasma marginale).
Ainda que Babesia e Anaplasma sejam parasitas
da mesma célula sanguínea (hemácias) e possam apresentar infecções
concomitantes, com sintomatologia semelhante, é importante ressaltar que
Babesiose e Anaplasmose não são a mesma doença, exigindo manejo e tratamento
distintos.
2 Transmissão
As babesias são transmitidas diretamente aos bovinos única e
exclusivamente pelo carrapato Boophilus microplus. Podem ainda ser
transmitidas de forma mecânica por agulhas e instrumentos cirúrgicos.
A transmissão direta do Anaplasma também se dá pelo
mesmo carrapato, mas também pode acontecer através da picada de insetos
hematófagos (moscas, mutucas e mosquitos).
A transmissão de ambas as doenças pode ainda ocorrer no
terço final da gestação em fêmeas portadoras (transmissão congênita).
Pesquisas indicam que grande parte do Brasil, onde a
temperatura é relativamente alta por todo o ano, se encontra em estabilidade
enzoótica para essas doenças, pois os bovinos se mostram naturalmente
imunizados, devido à exposição ao carrapato de forma praticamente constante.
Estes locais ou regiões são conhecidos como endêmicos
Ao contrário, onde as condições climáticas ou questões de
manejo e controle de carrapato não permitem a presença constante do carrapato,
não há transmissão contínua dos agentes, que podem passar a fase jovem sem serem inoculados, não
desenvolvendo imunidade específica adequada e tornando-se adultos sensíveis.
Estes locais ou regiões são conhecidos como epidêmicos,
instáveis ou de instabilidade enzoótica, ou seja, onde pode ocorrer surto da
doença clínica, com grande número de mortes.
A Tristeza Parasitária é mais comum em bezerros após o
primeiro mês de vida, quando há uma queda da imunidade passiva (colostro). Em
áreas endêmicas, esses animais adquirem imunidade a esses parasitas, se
mantendo assintomáticos quando mais velhos, pois são constantemente
reinfectados.
3 Patogenia
A infecção é causada pela invasão, desenvolvimento e multiplicação
de babesias e anaplasmas no citoplasma das células sangüíneas (hemácias). Cada
elemento infectante invadirá outra hemácia e sofrerá nova divisão.
O Anaplasma não provoca ruptura da hemácia em sua
saída, como acontece com a babesia.
4 Sinais Clínicos
Os animais portadores da Tristeza Parasitária apresentam
inicialmente um quadro de intensa apatia e prostração; as mucosas oculares
apresentam-se intensamente pálidas ou amareladas, indicando anemia ou
icterícia, respectivamente (a icterícia é mais intensa em Anaplasmose); febre
alta (acima de 40°C );
pêlos arrepiados e ásperos.
Nos casos de Babesia causada pela B. bovis,
os animais irão apresentar sinais neurológicos, especialmente relacionados à
locomoção, como andar cambaleante, incoordenação, principalmente dos membros
posteriores; urina com cor de chocolate (hemoglobinúria); tremores musculares;
agressividade e quedas com movimentos de pedalagem, evoluindo para óbito dentro
de 3 dias.
5 Achados de Necropsia
Toda a carcaça pode estar ictérica ou pálida. O sangue
tende a estar pouco viscoso e o plasma pode estar tingido de
vermelho.Edema pulmonar ou subcutâneo também pode ser observado.
O fígado pode estar muito pálido, devido à anemia ou
alaranjado, devido à icterícia.
O baço fica aumentado de volume e friável, devido à alta
destruição dos eritrócitos.
A bexiga fica distendida e contém urina
vermelho-escura. A coloração escura deve-se à filtração da hemoglobina
pelo rim e a distensão da bexiga ocorre pelo animal permanecer em decúbito
sem urinar com freqüência
Na babesiose causada por B. bovis, uma forma
conhecida como "babesiose cerebral" pode ocorrer. Nessa forma, o
encéfalo encontra-se na coloração róseo-avermelhada em toda sua
superfície. Isso se deve à intensa congestão e adesão dos eritrócitos
às células endoteliais. No encéfalo, isso resulta em severa congestão
capilar, alterando sua coloração e também provocando sinais neurológicos.
6 Diagnóstico
A presença de carrapatos é um importante fator para o
estabelecimento do diagnóstico da Babesiose e Anaplasmose;
Sintomatologia clínica;
Exame de esfregaço sanguíneo (preferencialmente por sangue
periférico: ponta de orelha ou cauda).
7 Diagnóstico Diferencial
É importante diferenciar o acometimento animal por Babesia
ou Anaplasma, para que o tratamento seja pertinente.
O Anaplasma é bem menor e localizado mais
perifericamente ou bem central ao eritrócito.
Na Anaplasmose ocorre anemia mas não há hemólise
intravascular, não havendo assim hemoglobinúria.
A icterícia é bem mais branda nos casos de Babesiose.
8 Tratamento
O tratamento específico para Babesiose constitui-se nos
derivados da diamidina (anti - protozoários) e para a Anaplasmose nas
tetraciclinas (antibióticos), sendo importante a identificação dos agentes e
avaliação as sintomatologia.
Se ainda assim permanecer dúvida, deve-se utilizar o
dipropionato de imidocarb, que possui ação em ambas as doenças.
Geralmente, o tratamento específico, aplicado antes do
aparecimento de sintomas graves (alto grau de anemia e distúrbios do sistema
nervoso), leva à recuperação do quadro clínico.
Caso contrário, recomenda-se ainda, transfusão sanguínea e
tratamento de suporte com soroterapia, protetor hepático e o cuidado de manter
os animais calmos, com água e comida abundantes.
Em áreas endêmicas, é importante que os animais sejam
expostos à infestação pelo carrapato para que se tornem imunes (profilaxia
natural), obviamente sem excessos.
9 Controle e Profilaxia
Controle fora do hospedeiro:
• Rotação
de pastejo (40-60 dias);
• Introdução
de espécies de gramíneas com poder de repelência e ou ação letal ao carrapato
(capim-gordura, capim-elefante, estilosantes, etc);
• Alteração
de microclima;
• Implantação de lavouras - ausência de animais;
• Uso de agentes biológicos - ainda não
disponíveis.
Controle no hospedeiro:
• Aplicação
de carrapaticidas (organofosforados, formamidinas, piretróides, avermectinas)
periodicamente, a fim de interromper o ciclo biológico dos carrapatos; Formas
de aplicação: pulverização, banho de imersão, aplicação dorsal (pour-on e
spot-on) ou injetável (avermectinas).
• Considerar o período residual do produto;
• Atentar
para surgimento de resistência.
Quando necessária, a profilaxia é feita através da
imunização de animais sensíveis, passíveis de adoecer, os quais se apresentam
nas seguintes situações:
• animais
de áreas livres de carrapatos transportados para área com carrapato;
• animais
de região de instabilidade enzoótica;
• situação
de redução temporária da infestação por carrapatos;
• animais
expostos à superinfestação por carrapatos.
Atualmente, tem-se à disposição três métodos de imunização
de bovinos:
Premunição: inoculação de sangue infectado com os agentes,
retirado de um bovino portador. Normalmente não é padronizado, sendo de alto
risco, podendo levar o animal à morte.
Vacinas atenuadas: inoculação de sangue contendo os agentes
de forma padronizada. Os parasitas não apresentam sua virulência normal mas
estão vivos, havendo o desenvolvimento de uma infecção subclínica que não
requer tratamento, levando ao desenvolvimento da imunidade nos animais.
Quimioprofilaxia: utilização do dipropionato de imidocarb e
subseqüente exposição dos animais à infestação pelo carrapato de maneira
constante. A queda gradual dos níveis sanguíneos da droga permite um aumento
gradual dos agentes nos bovinos, o que leva ao desenvolvimento da resposta
imune. É necessário garantir uma infestação baixa e constante de carrapatos
logo após a utilização da droga.
10 Considerações Finais
A Tristeza Parasitária Bovina é um dos problemas sanitários
de maior prejuízo econômico na pecuária bovina, que se traduz por altos índices
de mortalidade e morbidade, com significativa redução na produção de carne e/ou
leite, menor fertilidade nos animais afetados e altos custos com tratamentos e
manejos especiais.
Os animais do gênero Bos taurus (Taurinos)
são mais sensíveis aos carrapatos do que os animais do gênero Bos indicus
(Zebuinos) e assim às hemoparasitoses.
O uso inadequado de carrapaticidas pode
acarretar na resistência do parasita, sendo necessária uma
rotatividade através do uso de diferentes produtos.
Referências Bibliográficas
0 comentários:
Postar um comentário