quarta-feira, 16 de abril de 2014

TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA (TPB)

1 Introdução


O complexo de doenças que inclui a Babesiose e a Anaplasmose, é conhecido no Brasil, como Tristeza Parasitária Bovina (TPB).
A Babesiose é causada por protozoários do gênero Babesia (espécies Babesia bovis e Babesia bigemina);
A Anaplasmose é causada por uma rickettsia do gênero Anaplasma (espécie Anaplasma marginale).
Ainda que Babesia e Anaplasma sejam parasitas da mesma célula sanguínea (hemácias) e possam apresentar infecções concomitantes, com sintomatologia semelhante, é importante ressaltar que Babesiose e Anaplasmose não são a mesma doença, exigindo manejo e tratamento distintos.

2 Transmissão

As babesias são transmitidas diretamente aos bovinos única e exclusivamente pelo carrapato Boophilus microplus. Podem ainda ser transmitidas de forma mecânica por agulhas e instrumentos cirúrgicos.
A transmissão direta do Anaplasma também se dá pelo mesmo carrapato, mas também pode acontecer através da picada de insetos hematófagos (moscas, mutucas e mosquitos).
A transmissão de ambas as doenças pode ainda ocorrer no terço final da gestação em fêmeas portadoras (transmissão congênita).
Pesquisas indicam que grande parte do Brasil, onde a temperatura é relativamente alta por todo o ano, se encontra em estabilidade enzoótica para essas doenças, pois os bovinos se mostram naturalmente imunizados, devido à exposição ao carrapato de forma praticamente constante. Estes locais ou regiões são conhecidos como endêmicos
Ao contrário, onde as condições climáticas ou questões de manejo e controle de carrapato não permitem a presença constante do carrapato, não há transmissão contínua dos agentes, que podem  passar a fase jovem sem serem inoculados, não desenvolvendo imunidade específica adequada e tornando-se adultos sensíveis.
Estes locais ou regiões são conhecidos como epidêmicos, instáveis ou de instabilidade enzoótica, ou seja, onde pode ocorrer surto da doença clínica, com grande número de mortes.
A Tristeza Parasitária é mais comum em bezerros após o primeiro mês de vida, quando há uma queda da imunidade passiva (colostro). Em áreas endêmicas, esses animais adquirem imunidade a esses parasitas, se mantendo assintomáticos quando mais velhos, pois são constantemente reinfectados.

3 Patogenia

A infecção é causada pela invasão, desenvolvimento e multiplicação de babesias e anaplasmas no citoplasma das células sangüíneas (hemácias). Cada elemento infectante invadirá outra hemácia e sofrerá nova divisão.
O Anaplasma não provoca ruptura da hemácia em sua saída, como acontece com a babesia.

4 Sinais Clínicos

Os animais portadores da Tristeza Parasitária apresentam inicialmente um quadro de intensa apatia e prostração; as mucosas oculares apresentam-se intensamente pálidas ou amareladas, indicando anemia ou icterícia, respectivamente (a icterícia é mais intensa em Anaplasmose); febre alta (acima de 40°C); pêlos arrepiados e ásperos.     
Nos casos de Babesia causada pela B. bovis, os animais irão apresentar sinais neurológicos, especialmente relacionados à locomoção, como andar cambaleante, incoordenação, principalmente dos membros posteriores; urina com cor de chocolate (hemoglobinúria); tremores musculares; agressividade e quedas com movimentos de pedalagem, evoluindo para óbito dentro de 3 dias.

5 Achados de Necropsia

Toda a carcaça pode estar ictérica ou pálida. O sangue tende a estar pouco viscoso e o plasma pode estar tingido de vermelho.Edema pulmonar ou subcutâneo também pode ser observado.
O fígado pode estar muito pálido, devido à anemia ou alaranjado, devido à icterícia.
O baço fica aumentado de volume e friável, devido à alta destruição dos eritrócitos.
A bexiga fica distendida e contém urina vermelho-escura. A coloração escura deve-se à filtração da hemoglobina pelo rim e a distensão da bexiga ocorre pelo animal permanecer em decúbito sem urinar com freqüência
Na babesiose causada por B. bovis, uma forma conhecida como "babesiose cerebral" pode ocorrer. Nessa forma, o encéfalo encontra-se na coloração róseo-avermelhada em toda sua superfície. Isso se deve à intensa congestão e adesão dos eritrócitos às células endoteliais. No encéfalo, isso resulta em severa congestão capilar, alterando sua coloração e também provocando sinais neurológicos.

6 Diagnóstico

A presença de carrapatos é um importante fator para o estabelecimento do diagnóstico da Babesiose e Anaplasmose;
Sintomatologia clínica;
Exame de esfregaço sanguíneo (preferencialmente por sangue periférico: ponta de orelha ou cauda).

7 Diagnóstico Diferencial

É importante diferenciar o acometimento animal por Babesia ou Anaplasma, para que o tratamento seja pertinente.
O Anaplasma é bem menor e localizado mais perifericamente ou bem central ao eritrócito.
Na Anaplasmose ocorre anemia mas não há hemólise intravascular, não havendo assim hemoglobinúria.      
A icterícia é bem mais branda nos casos de Babesiose.

8 Tratamento

O tratamento específico para Babesiose constitui-se nos derivados da diamidina (anti - protozoários) e para a Anaplasmose nas tetraciclinas (antibióticos), sendo importante a identificação dos agentes e avaliação as sintomatologia.
Se ainda assim permanecer dúvida, deve-se utilizar o dipropionato de imidocarb, que possui ação em ambas as doenças.
Geralmente, o tratamento específico, aplicado antes do aparecimento de sintomas graves (alto grau de anemia e distúrbios do sistema nervoso), leva à recuperação do quadro clínico.
Caso contrário, recomenda-se ainda, transfusão sanguínea e tratamento de suporte com soroterapia, protetor hepático e o cuidado de manter os animais calmos, com água e comida abundantes.
Em áreas endêmicas, é importante que os animais sejam expostos à infestação pelo carrapato para que se tornem imunes (profilaxia natural), obviamente sem excessos.

9 Controle e Profilaxia

Controle fora do hospedeiro:

      Rotação de pastejo (40-60 dias);

      Introdução de espécies de gramíneas com poder de repelência e ou ação letal ao carrapato (capim-gordura, capim-elefante, estilosantes, etc);

      Alteração de microclima;

       Implantação de lavouras - ausência de animais;

       Uso de agentes biológicos - ainda não disponíveis.

Controle no hospedeiro:

 Aplicação de carrapaticidas (organofosforados, formamidinas, piretróides, avermectinas) periodicamente, a fim de interromper o ciclo biológico dos carrapatos; Formas de aplicação: pulverização, banho de imersão, aplicação dorsal (pour-on e spot-on) ou injetável (avermectinas).

       Considerar o período residual do produto;

      Atentar para surgimento de resistência.

Quando necessária, a profilaxia é feita através da imunização de animais sensíveis, passíveis de adoecer, os quais se apresentam nas seguintes situações:

    animais de áreas livres de carrapatos transportados para área com carrapato;

      animais de região de instabilidade enzoótica;

      situação de redução temporária da infestação por carrapatos;

      animais expostos à superinfestação por carrapatos.

Atualmente, tem-se à disposição três métodos de imunização de bovinos:
Premunição: inoculação de sangue infectado com os agentes, retirado de um bovino portador. Normalmente não é padronizado, sendo de alto risco, podendo levar o animal à morte.
Vacinas atenuadas: inoculação de sangue contendo os agentes de forma padronizada. Os parasitas não apresentam sua virulência normal mas estão vivos, havendo o desenvolvimento de uma infecção subclínica que não requer tratamento, levando ao desenvolvimento da imunidade nos animais.
Quimioprofilaxia: utilização do dipropionato de imidocarb e subseqüente exposição dos animais à infestação pelo carrapato de maneira constante. A queda gradual dos níveis sanguíneos da droga permite um aumento gradual dos agentes nos bovinos, o que leva ao desenvolvimento da resposta imune. É necessário garantir uma infestação baixa e constante de carrapatos logo após a utilização da droga.

10 Considerações Finais

A Tristeza Parasitária Bovina é um dos problemas sanitários de maior prejuízo econômico na pecuária bovina, que se traduz por altos índices de mortalidade e morbidade, com significativa redução na produção de carne e/ou leite, menor fertilidade nos animais afetados e altos custos com tratamentos e manejos especiais.
Os animais do gênero Bos taurus (Taurinos) são mais sensíveis aos carrapatos do que os animais do gênero Bos indicus (Zebuinos) e assim às hemoparasitoses.
O uso inadequado de carrapaticidas pode acarretar na resistência do parasita, sendo necessária uma rotatividade através do uso de diferentes produtos.

Referências Bibliográficas



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